REMAKE

ONDE ESTÁ RENATO

 
Antes dos meus pais comprarem a avenida ao lado de nossa casa.
Mais um investimento de puro arrependimento do meu pai, que infelizmente não soube investir seu suado dinheiro nos imóveis certos ou teve muito azar mesmo...
Um terreno em Bom Pastor, que ao que me contaram, foi como pagamento de dívida de fundição. A invasão de um terreno nesse país é quase como certa, e piorando ainda mais a situação, expulsar o invasor é quase impossível, a não ser que o terreno seja extremamente valorizado, incitando interesses do mercado imobiliário.
Acabaram vendendo o terreno, pois era muita preocupação para pouco valor, soube que fizeram até arraial junino nele, sem pagar um tostão aos meus pais. O outro bem no centro da cidade de Bel, que meu pai, já decadente, não esperou a cidade virar município de fato (já tinha aprovada em plebiscito a sua emancipação), para poder revender o terreno bem mais valorizado.
E não adiantou nada, acho que, se meu pai ganhasse na mega sena nesta época, ainda assim ele morreria como morreu: na miséria.
E tem o sítio com a sua história já publicada no blog, onde analisei friamente o fracasso do empreendimento. Ele foi o pior de todos.
Voltando:
Antes de meus pais... Morava na avenida uma jovem mãe de um menino de dois anos de idade, pele morena índia, cabelos negros índio e olhos castanhos claros.
Renato, que sofria maus tratos da mãe.
Numa época onde não havia ECA, Conselho Tutelar, nada parecido.
Todo dia Renato apanhava, uma vez vi a criança já caída no chão e chorando muito, levando vassouradas da mãe, e ela ainda gritando com ele sem parar. Os vizinhos não conseguiam olhar, uma delas, correu para dentro do seu quarto, para não ver tamanha covardia.
Dona Aparecida não era alheia ao que acontecia ao lado. Mesmo se nada visse, ela tudo ouvia.
Fez amizade com a mãe de Renato, e quando ela comentou que iniciaria um tratamento na cidade, e não tinha com quem deixar a criança, ela logo se ofereceu para ficar com o menino.
Era época de férias escolares, Renato recebido como reizinho em nossa casa, por alguns dias, eu e Alex ganhamos um irmãozinho. E foi muito bom.
Renato brincava, sorria o tempo inteiro, mexia em tudo, mas a gente não ligava, havia se apaixonado pelo carrinho de controle remoto do Alex, acho que uns dos primeiros modelos a serem fabricados no Brasil, também brincávamos de polícia e ladrão.
Nesses dias Renato não apanhou, só chorou uma vez, mexendo na bicicleta, prendeu o dedinho na corrente, mas logo tiramos e ele logo se recobrou. Era um menino forte, acostumado com a dor, e aquilo para ele foi fichinha.
Como eu era muito criança na época, não sei o que realmente aconteceu. Renato parou de passar as tardes com a gente, e sua mãe se mudou sem se despedir ou dar o novo endereço. Meus pais ficaram chateados e preocupados com o destino de Renato.
Vendo a facilidade de como pais e padrastos matam seus filhos e enteados, me pergunto se ele chegou à vida adulta, se chegou, o que a sua violenta infância o tornou.
Amedronto-me em perguntar: Renato está vivo?

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